Comunicar

Comunicar

Nesses últimos dias eu uma amiga estávamos discutindo bastante sobre Pierre Bourdieu, especificamente o preconceito linguístico e por coincidência, ontem, lendo alguns comentários da tirinha da Sofia eu vi alguns “espertões” da gramática apontando que no terceiro quadrinho havia um erro, pois foi usado “cumprida” e (segundo eles) deveria ter sido usado cOmprida.

(Antes de continuar, só pra acalmar o transtorno obsessivo compulsivo de alguns, foi escolhido cumprida e não comprida pelo significado da palavra cumprida (feita, realizada, executada) e por possuir a mesma sonoridade de comprida (esticada, extensa, longa). Foi um trocadilho proposital e interessante pro contexto da poesia e (caso alguém não saiba) a poesia não se encerra no mero escrito, mas também no jogo sonoro de palavras, nas sensações trazidas.) enfim…

Mas suponhamos que tivéssemos nos deparado com um erro de fato, tipo uma palavra escrita com duplo S onde deveria haver Ç (cedilha) ou um singular “desajeitado” onde deveria haver um elegante plural. Tais “erros”, sempre me pareceram menos ridículos que a vontade de alguns em apontá-los. Mais que isso, tais erros nunca subtraíram em mim uma fagulha sequer da beleza, alma e vida que existe no que leio ou ouço.

Parece que muitos se esqueceram que a língua, seja ela qual for, foi criada por uma razão MUITO simples: comunicar. E comunicar é uma das artes mais misteriosas do universo, senhores. Pois até o homem mais impecável na gramática e afiado pelo intelecto mais brilhante muitas vezes não conseguirá se fazer entender, mesmo sendo ouvido por outro tão iluminado pelo conhecimento quanto ele. E ironicamente um outro muito mais singelo conseguiria expressar o que ele queria dizer numa facilidade colossal dizendo “…meu peito até parece sabe o que? Táubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furá”.

Se a resposta fosse regras infindáveis de etiqueta gramatical, acreditem, nós já teríamos encontrado a panacéia da linguagem.
JL