Você acorda todos os dias e sente ao final dele que só está lutando pra sobreviver ao
mundo. À pessoas vazias, ao trabalho vazio, aos preconceitos, à desonestidade, à violência
gratuita, à profunda ignorância irrefreável.
Você sente que o mundo se divide em dois grandes grupos; aqueles que agonizam nessa
realidade e aqueles que não sabem que vivem nela.
E todos repetem pra você (seja nos templos, ou nas conversas casuais) que você deve se
adaptar. Pois, se você está sofrendo, é porque é incapaz de enxergar o lado bom (seja lá o
que isso signifique).
Mas será que estamos inexplicavelmente tristes? Quer dizer, não é de se espantar que um
sujeito bombardeado de vazio, preconceito, desonestidade, violência e ignorância se sinta
triste.
Por que ninguém tem culhão de dizer que o problema não é se sentir triste nesse sistema
doentio, mas o próprio sistema? Por que as pessoas não dedicam 1 minuto ao menos pra
dizer “Cara, está tudo bem se sentir assim! A culpa NÃO É SUA. Esse sistema que está
acabando com você”?
Todo ouvinte que encontramos inicia o discurso partindo pra depois do sistema. Como se consolasse uma vítima de um fenômeno da natureza. Você não culpa o furacão, você encoraja o homem a aguentar firme e reconstruir sua casa.
Por que as pessoas afastam tanto de nós a percepção de que o sistema nos mói vivos e que ele pode ser desobedecido, desconstruído e reprogramado, a qualquer instante por nós, os oprimidos?
Por que escondemos essa verdade até de nós mesmos?
Uma pessoa triste é alguém primordialmente insatisfeito que não vê mais a possibilidade de luta contra o mal. E não, o mal não é nenhum demônio ou espírito. O mal é extremamente tangível, ele está nessa falsa democracia, nesse sistema de trabalho, nas “castas” sociais, na ilusão da meritocracia. E não, ele não será resolvido por nenhum “deus”, mas por quem permite que ele continue a acontecer: nós.
Uma pessoa dessas não precisa de um convite para encontrar alegria em seu interior ou nos céus. Ela precisa se lembrar do poder da desobediência.
Quando uma pessoa te vê tentando coexistir entre tantos revezes e depois disso falar que a culpa da sua tristeza, de algum modo, é sua… Essa pessoa está passando a mão na cabeça de tudo que torna esse mundo insuportável.
JL
