Rua Liberdade


Eu precisava ir num lugar, deveria levar o endereço no bolso e o guarda chuva nas mãos Precisava ir num lugar e gostaria que ele fosse em local fácil e fascinante.

Havia parado de chover, no meio de uma noite cheia de chuva e eu gostaria que o intervalo fosse o término.
Eu precisava de dinheiro para o ônibus e de minha carteira para um lanche. Mas eu queria chegar o quanto antes. Pois o lugar não resolveria nada agora, mas eu gostaria que resolvesse nesse instante. Por isso deixei a carteira, afogado pela pressa.
Saí de casa com o endereço que eu passei a acreditar com alegria que se situava em lugar fácil e fascinante.
Rua da liberdade número 3, esse local ficaria perfeito logo ao lado do Gonzaga.
No começo do caminho a noite de chuva voltou de seu intervalo.
Me escondi num ponto cheio de rostos tímidos e guarda-chuvas coloridos. Haviam duas ou três moças que gostariam que eu conversasse com elas. Mas não havia o que se dizer. Eram tão banais quanto qualquer homem, qualquer carro ou construção.
A chuva quase sumiu assim que me escondi ali. Assumi que ela havia cessado. Minha fé não estava equivocada, eu só havia errado a sincronia.
E a meio caminho a chuva voltou. Procurei abrigo e sentei-me na pequena varanda de uma farmácia, onde haviam meninos de rua contando suas moedas. Falavam sobre comer.

Assim que me viram, perguntaram se eu tinha umas moedas. Afinal, o que mais me perguntariam? Eles foram minuciosamente educados por nós a desacreditar que um ser humano seria capaz de algo melhor por eles.
Sentei-me com eles. O que me fazia diferente daqueles meninos? O mero detalhe de oportunidades tiradas ou recebidas? Isso não nos faz diferentes, apenas vítimas do privilégio ou do castigo animal do mundo.
Eles foram embora, levados por um homem branco.
Levantei-me com a chuva ainda caindo e fui, assumindo que acreditei em vão. No cessar da chuva, e um dia, na humanidade. Cheguei nas proximidades de onde eu acreditava ser o lugar. E perguntei aos transeuntes sobre a rua liberdade. Niniguém sabia.
Mas como os transeuntes não sabiam da rua que ficava bem ali, no dobrar de esquina?
Então dobrei a esquina, cheguei no lugar e um homem de barba rala estava lá, sem esperar por mim.
– Aqui é a rua Liberdade?
Ele me olhou numa resignação indiferente, quase constrangida e disse: Não…
– Você sabe onde fica?
Ele quase ficou triste e me disse: Não sei não…
– Mas… Qual o nome dessa rua?
– Goitacazes.
– Poderia ser Liberdade…
– Mas é Goicatazes.
–  … seria bom para todos nós…

JL