Menino

Menino

às vezes você se sente perdido, não é menino?
e as vezes você sabe que essas vezes acontecem mais do que deveriam
a vida parece te escapar por entre os dedos
enquanto você tenta achar um modo de fazê-la finalmente acontecer pra valer
você passa da hora de dormir de propósito,
porque já se cansou de tanto sonho te amolando
pedindo no pé do ouvido: me deixa sair!
às vezes você se sente aquele que sobrou numa festa que já começou vazia
se sente só, num mundo cheio
e aos 20 vai perceber que o mundo não é bem aquele que você prometeu a si mesmo quando tinha seus 12 anos
tantos nós cegos e tão poucos desenlaces

eu sei menino, eu entendo… entendo porque um dia já fui menino
e te adianto daqui, daqui desses tantos anos
que não descobri tanto quanto essas rugas insinuam

descobri que a nota Sol é uma das mais bonitas
e que as vezes é só disso que precisamos
orbitar sóis forjados por nossos dedos
deixar que ressoem… que nos aqueçam

isso não é exatamente uma resposta pra nada, eu sei…
mas é algo, menino…
é algo
JL


Comunicar

Comunicar

Nesses últimos dias eu uma amiga estávamos discutindo bastante sobre Pierre Bourdieu, especificamente o preconceito linguístico e por coincidência, ontem, lendo alguns comentários da tirinha da Sofia eu vi alguns “espertões” da gramática apontando que no terceiro quadrinho havia um erro, pois foi usado “cumprida” e (segundo eles) deveria ter sido usado cOmprida.

(Antes de continuar, só pra acalmar o transtorno obsessivo compulsivo de alguns, foi escolhido cumprida e não comprida pelo significado da palavra cumprida (feita, realizada, executada) e por possuir a mesma sonoridade de comprida (esticada, extensa, longa). Foi um trocadilho proposital e interessante pro contexto da poesia e (caso alguém não saiba) a poesia não se encerra no mero escrito, mas também no jogo sonoro de palavras, nas sensações trazidas.) enfim…

Mas suponhamos que tivéssemos nos deparado com um erro de fato, tipo uma palavra escrita com duplo S onde deveria haver Ç (cedilha) ou um singular “desajeitado” onde deveria haver um elegante plural. Tais “erros”, sempre me pareceram menos ridículos que a vontade de alguns em apontá-los. Mais que isso, tais erros nunca subtraíram em mim uma fagulha sequer da beleza, alma e vida que existe no que leio ou ouço.

Parece que muitos se esqueceram que a língua, seja ela qual for, foi criada por uma razão MUITO simples: comunicar. E comunicar é uma das artes mais misteriosas do universo, senhores. Pois até o homem mais impecável na gramática e afiado pelo intelecto mais brilhante muitas vezes não conseguirá se fazer entender, mesmo sendo ouvido por outro tão iluminado pelo conhecimento quanto ele. E ironicamente um outro muito mais singelo conseguiria expressar o que ele queria dizer numa facilidade colossal dizendo “…meu peito até parece sabe o que? Táubua de tiro ao álvaro, não tem mais onde furá”.

Se a resposta fosse regras infindáveis de etiqueta gramatical, acreditem, nós já teríamos encontrado a panacéia da linguagem.
JL

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