Entrevista às quatorze horas… Bom começar a se arrumar duas horas antes, para estar no ponto uma hora antes.
Não importa o quão capacitado ou acima da capacidade para o cargo se esteja, você vai precisar vestir uma roupa engomadinha, pelo bem da sua autoconfiança.
Porque todos nós sabemos veladamente que um funcionário do RH nos aguarda. Alguém que provavelmente escolheu a área pelo sadismo de ver toda a insegurança e pavor de um
Sofá de couro preto ao sol
Como foi ontem?
Como foi ontem?
Bem, eu coloquei um par de sapatos, uma calça social preta (que mesmo do tamanho certo “precisa de um cinto se não, não é elegante”, é o que dizem) uma blusa lisa preta e um blazer escuro… talvez um azul escuro, ainda não sei. Ele muda de cor de acordo com a luz que bate nele.
Sim, fui a pé. Qual o problema? Prefiro caminhar, me faz pensar demais.
Por uma época apontavam isso como (mais…)
A guerra do sul – parte 1
Hoje essas mãos não serão abertas. O aço e a carne serão indistinguíveis. A lâmina ficará gasta, muito antes de teus braços se cansarem.
Hoje haverá um lamentar profundo por tua vinda. Um espanto sinistro nos quatro tronos vermelhos. Que hoje tu se esqueças teu nome e torne-se o sopro do castigo.
Guarda bem teu pescoço, pois ele leva agora o colar de Thea. Mas esqueça de teu coração. Entrega-o aos vales das nepéias, onde ela descansa.
Que teu elmo limpe tua mente, que teus olhos prevejam o fatalismo das valquírias. Que Odin o note tarde demais.
Seja uma causa e erga-a num urro infernal, estremeça-a nas almas dos inimigos. Seja a seta destoante de Skuld.
Perfure fundo as entranhas do sul. E depois volte como o corvo esquerdo de Odin…
Seja a memória do povo do leste.
JL
Irene – Parte 2
Irene pendia monótona, confortada na tempestade fumegante. Esquecia-se do átimo estúpido em que perdeu a caçada de si. Acompanhava a corrida das gotículas nas paredes, seus caminhos tortos, suas interrupções frequentes (não sabia bem se reparava as gotas ou a própria vida).
O boxe alagava, os pés afogavam-se na água ensaboada, Irene movia esporadicamente as (mais…)
Irene – Parte 1
um silêncio… Normalmente é assim que se inicia um grande feito, ou qualquer coisa que se classifique como tal. O sol começa a tornar-se opaco, dando lugar as luzes elétricas. Lá fora tudo fica amarelo-pálido-alaranjado, aos sons de motores e burburinhos urbanos. O sol vai deslizando pela sala, chão de madeira ressecada, embotado de (mais…)
Mormaço
O mormaço de São Paulo combina com varandas, com sacadas apertadas, combina com respiração contida, com um divagar entre carros
combina com um isqueiro vazio, uma faísca à toa,
com mãos de esmalte descascado alcançando Bárbara Eugenia na prateleira,
com uma caneca de asa quebrada escrita “café”, mas gelada por chá
o mormaço de São Paulo combina com dança,
dança ao vapor
no limiar do horizonte
JL
A saudade e o interior
chega escondida em passarinho, na cidade interior das primeiras memórias
acha-me no quintal e abraça.
prometo não chorar
prometo não pedir que fique
apenas passa, traça um voo
o resto é saudade,
bobagens minhas…
JL
A espera e os passarinhos
vivia perguntando a minha mãe, afinal o que eu era?
ela sorria como se eu soubesse, como se ouvisse de mim uma queixa retórica
talvez a parte mais (mais…)
O sonho, o skate e o abraço
Sonhei que esbarrei por um acaso com um colega de classe da época do ensino médio, numa espécie de sala de estar. Nós começamos um diálogo e por algum motivo me senti na necessidade de repassar a ele algo que eu aprendi com os anos, algo sobre (mais…)
Por entre os dedos
As pessoas me escapam por entre os dedos. Sequer chego a conseguir segurar suas mãos, apenas toco nas pontas de seus dedos, dedos gelados, dedos desacostumados.
Eu lhes digo a parte bonita de algo, a parte que está bem feita e pronta pra (mais…)