Criei um clube

Escrever é um trabalho solitário, que me leva a momentos desmotivadores. Um dia pensei que seria algo realmente encorajador se houvesse um “clube” de escritores obstinados.
A condição para entrar no clube seria aceitar duas regras extremamente objetivas e incontornáveis:
1) Deve-se trabalhar todos os dias em sua obra. Seja escrevendo a obra ou fazendo pesquisas/anotações que tenham relação com o trabalho.
2) Todos devem compartilhar um relato diário de como foi a sensação da escrita do dia e encerrar com um encorajamento para que o outro escritor sinta-se motivado a cumprir seu trabalho do dia.

Parecia promissor. Afinal, o que eu estava esperando? E assim fez-se o clube.
Isso resultou em mais de trinta interessados. Um número altíssimo, tendo em mente que existem poucos escritores entre a população e um número muito menor disposto a se comprometer dessa maneira com o próprio trabalho.

Dos 30, apenas 15 realmente desejaram ingressar ao clube (a outra metade desistiu depois de simplesmente ouvir novamente as duas únicas regras do grupo, seguidas da pergunta “Você tem certeza que conseguiria cumprir as duas únicas regras?”).
Minha expectativa pessimista era que, depois de duas semanas, apenas 3 ou 4 pessoas se mantivessem cumprindo o acordo. Minha expectativa confirmou-se quanto às pessoas restantes, porém num intervalo de tempo muito menor, apenas três dias. Três dias!

Eu estava diante de uma das faces mais atuais da limitação humana: As pessoas não sabem o peso do que elas próprias dizem concordar e aceitar. Elas acreditam que para fazer parte de algo basta dizer “sim”, ou melhor: elas acreditam que, ao dizer “sim”,  todo o esforço e comprometimento brotarão por “geração espontânea” dentro delas. Mas o resultado são pessoas que dizem fazer parte, por mais que não façam parte de coisa alguma.

Me pergunto onde as coisas se perderam. Onde foi que a sociedade tornou-se tão relapsa?
Quantos clubes vazios encontramos todos os dias, repletos de pessoas? O clube da educação acadêmica, o clube da amizade, o clube da família, o da ética… Parece que foi o que restou de toda a diversão: Esvaziar clubes, mas manter as carteirinhas.