Um texto sobre ausência

stephen

Hoje pela manhã soube que Stephen Hawking havia morrido ontem. Me deu uma sensação de pesar, aquele baque que sentimos quando pensamos que todas as lendas da humanidade já morreram e de repente descobrimos que não, não até aquele instante.
Stephen se foi, silenciosamente. Um homem dessa magnitude e importância morreu simplesmente, como uma formiga morreria, como a mais medíocre das bactérias. E ele sempre soube que seria assim.
A questão que ficou na minha cabeça foi: por que eu me senti triste por ele? Foi a primeira sensação que tive: me senti triste por aquele cientista e humanitário, antes de me sentir triste como parte da humanidade que o perdeu.
Sempre pensei que sentir pena por alguém que se foi, era descabido. Era apenas uma camuflagem pro real motivo: colocarmos nosso sofrimento no centro e deixar de lado o fato de que não há sofrimento para aquele que deixou de existir.
Mas dessa vez não sentia ser isso. Eu realmente lamentei por Stephen ter partido, diretamente por ele em si, ter deixado de existir. Mas por que eu estava sentindo isso? Eu tentava descobrir enquanto rolava uma notícia da BBC distraidamente.
A resposta veio lentamente, como se já estivesse ali: Stephen tinha amor pela humanidade e pela vida. E cada segundo que viveu foi para tentar aproximá-la de uma lucidez maior e melhor a respeito de si mesma e do universo. Stephen muito provavelmente não desejava partir, ele desejava ajudar com tudo o que tinha. Um dos poucos homens que podemos dizer que foi literal em dar o máximo de si pelo bem da ciência.
E deu tanto de si até o fim, por não acreditar que teria uma segunda chance, ou uma continuidade depois dessa vida. Ele precisava ser o melhor, não por prêmios ou por segundas chances póstumas, mas porque a existência é agora e é finita.
É estranha a sensação de pensar num homem que queria permanecer para fazer o melhor, justamente por acreditar na realidade acima de qualquer coisa.
É difícil imaginar sua ausência. Ele foi uma criatura rara, como um animal exuberante que enxergamos ao longe, nos sentindo gratos pela chance de presenciá-lo. Eu poderia dizer que Stephen não perdeu nada ao partir, que foi exclusivamente nós, os que ficamos, que teremos que conviver com um vazio estranho. Mas não seria verdade. Stephen provavelmente diria que ele também perdeu e se pudesse, se valeria de mais tempo para poder nos guiar por esse lugar ainda muito desconhecido que é o nosso universo.
Stephen se foi, irremediavelmente. Mas deixou muito do melhor de si. Como Platão disse na sua obra “O banquete”, o melhor filho que a humanidade pode gerar vem de sua mente e não de seu ventre. Stephen deixou rebentos de peso, pedaços vivos de si, que sempre ressuscitarão frente aos nossos olhos quando sinceramente nos propusermos a lê-los. Stephen se foi, mas não estamos sós de sua companhia.

JL