Assisti “O Mecanismo”

mecanismo
Comecei a ler de páginas, jornais e até de políticos, uma série de críticas e esbravejos quanto à série “o mecanismo” da netflix. Basicamente todos diziam nas entrelinhas “vai por mim, é ruim! Não assista”. A maior parte justificava que a série tinha várias distorções e que não condizia com “a verdade” (seja lá o que isso signifique… logo num país como esse).
Alguns iam até mais longe e diziam que cancelar a netflix significava dar menos lucro a uma empresa arraigada nos ideários do capitalismo (ok, ai você pensa: mas até então não era?).

Foi preocupante ver um alarde quase inquisidor por uma obra de ficção. O que eles esperam com uma recomendação de auto-censura como essas? Ingenuamente eu pensava ser a queda de espectadores. Mas depois me pareceu ser simplesmente uma tentativa de formar uma massa de haters pouco inteligentes. “Nossa você gostou do mecanismo? Que nojo de você, seu lixo manipulado!”
Eu ignorei toda essa bobagem, todos os doutos jornalistas, com suas opiniões “super bem embasadas” e dei play na série. Porque eu tenho uma visão bem simples: Séries são pra entreter.

Bom, eu assisti e gostei! Independente se é mentira ou verdade. Eu não procuro mentira ou verdade numa série de ficção, eu procuro por uma boa história e “o mecanismo” tem uma.

Agora o que eu mais gostei na série?
Esse seriado tinha tudo pra ser bem parado. Pois é o lado burocrático da coisa. Não tem tiroteio, não tem um cara bombadão matando ninjas com um bastão. Seria um tema que ninguém diria que poderia ser inquietante, mas foi. A série tem ritmo, é emocionante, tem ação dentro da burocracia. A série conseguiu mostrar o lado fascinante dos tramites legais e burocráticos, conseguiu mostrar heroísmo em canetas e papéis. E faz cenas marcantes e intensas. Padilha é  um cara que manja de escrever histórias dinâmicas, ele tem profundidade poética e sabe mesclar bons jogos de cenas metafóricas que alavancam ainda mais a trama central.

Existem cenas ruins, duas cenas especificamente, que sério… parece que um diretor de novela da Globo apareceu no set e disse “minha vez!”. Mas tirando essas duas cenas (que foram curtas e isoladas da narrativa central), o resto é muito bom.
E o que eu achei mais legal foi a mensagem que a primeira temporada tentou passar. O mecanismo diz que, se existem pessoas bem intencionadas dentro de um sistema falido, essas pessoas terão que enganar o próprio sistema para retirar dele indivíduos que o estão deteriorando. Que o trabalho de um policial honesto dentro de um sistema corrupto exige muito mais inteligência do que a de um policial de primeiro mundo. E instiga os espectadores, da mesma forma que os gibis de super herois instigam seus leitores: Faça parte do lado bom, por mais que isso seja difícil.
Ok, é ingênuo… ok a vida real é bem mais complexa. Mas cara: É UMA FICÇÃO! Comparado a tantas séries policiais que já assisti, “o mecanismo” não deixa a desejar em nenhum aspecto, pelo contrário. Padilha passa uma faceta mais intensa da coisa, personagens menos enlatados e muito mais próximos de nós.

Mas parece que toda a preocupação do pessoal que falou mal é que o seriado faria a cabeça da galera, que a nação iria ruir com uma indução ideológica…. Temo dizer que não se resolve esse suposto risco impedindo as pessoas de assistir, tão pouco dando uma opinião negativa da obra, mas provendo conhecimento e senso crítico.

Quando um meio de comunicação (ou uma figura política) está fazendo esse tipo de propaganda, não está simplesmente sendo contraditório (usando de manipulação da opinião pública para apontar uma possível manipulação da opinião pública), mas também chamando seus próprios leitores de idiotas.

Não evite nenhuma série de ficção pelas possíveis inverdades (afinal, tem um bom motivo para se chamar ficção). Aproveite o entretenimento que a obra pode te dar, reflita, tente tirar algo construtivo da experiência ou, no pior dos casos, apenas a esqueça.
JL